quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

BEBE-SE PARA ESQUECER E AINDA PARA FESTEJAR

O problema do alcoolismo na Região, tal como a nível nacional, é grave. Embora sem números oficiais, estima-se que há cada vez mais gente álcool- dependente. A grande maioria que procura tratamento diz que o que a levou ao consumo, foram as dificuldades da vida. Mas, diga-se de passagem, que há muita gente a beber para comemorar.


Não há dados oficiais quanto ao número de alcoólicos na Região mas sabe-se que a dimensão do problema é grave e que as contrariedades do dia-a-dia estão à cabeça das razões apontadas pelos consumidores de álcool em excesso, para justificarem os seus actos.
O Governo, através da Secretaria Regional dos Assuntos Sociais, está atento a esta questão que “destrói” muitas famílias madeirenses. Para tal, e para além dos apoios que concede às associações anti-alcoólica da Madeira e de alcoologia “Mão Amiga”, acompanha também o Centro de Recuperação de Alcoólicos S. Ricardo Pampuri, na Casa de Saúde São João de Deus. Para além disso, criou uma comissão anti-álcool, a qual é liderada pelo psiquiatra Luís Filipe. Este grupo de trabalho prepara-se para elaborar um estudo sobre o problema do álcool na Madeira. O alcoolismo não escolhe sexo, nem idades, assim como não o faz quanto a classes sociais. |Sabe-se que os homens são os que mais consomem, mas há cada vez mais mulheres à procura de ajuda para se libertarem deste vício. Um outro facto a apontar é que os jovens estão a “enveredar” cada vez mais cedo, pelo vício dos “copos”.
O vinho é a bebida preferida das pessoas das zonas rurais, enquanto que os da “urbe” apontam mais para as bebidas destiladas. A esmagadora maioria da população que consome álcool em excesso, tem dificuldades em assumir-se como doente e rejeita tratar-se. Mas o número daqueles que procuram ajuda, está também a aumentar.

«Ninguém nasceu com esta sina, ninguém nasceu para ser alcoólico»

Rua Latino Coelho, porta 45. No primeiro andar, um “bar” improvisado vende de tudo menos álcool. Ao lado, uma ampla sala acolhe 20 pessoas. A grande maioria do sexo masculino. As portas da Associação de Alcoologia “Mão Amiga” abrem-se pelas 19 horas e 30 minutos, às terças-feiras. Às 20 horas, decorre uma sessão de prevenção do alcoolismo. Rui Vasconcelos recebe-nos para uma dessas iniciativas em que a direcção da instituição recusa-se a falar para alcoólicos, ex-alcoólicos ou qualquer pessoa com rótulos. “Falamos, isso sim, para pessoas que se interessam pelo problema do álcool. Não sabemos quem é quem e se são alcoólicos ou não. Falamos para uns, para os outros ouvirem”, conta-nos Rui Vasconcelos. O representante da associação “Mão Amiga” diz que “quem quer contar o seu caso e pedir ajuda, è recebido à parte, num gabinete”.
A “A Mão Amiga” já ajudou muitos a libertarem-se deste flagelo que é o alcoolismo. Graças a uma “pressão psicológica” junto daqueles que, semanalmente, vão ouvir o que há para dizer sobre o problema do alcoolismo.
A nossa equipa de reportagem assistiu a uma iniciativa que se prolonga até as 23 horas. A sala estava preenchida e Rui Vasconcelos não foi “brando” nos considerandos que efectuou em torno do problema do alcoolismo. Referiu, por exemplo, que ninguém nasceu com esta sina, e que quem bebe para esquecer, acaba por tornar-se “num palhaço. Não esquece nada, faz asneiras e estraga muitas famílias”.
Os números de acidentes nas estradas — dos quais 53 por cento são da responsabilidade do álcool — foram também utilizados para sensibilizar os utentes para a necessidade de abandonarem o consumo.


“É preciso aplicar o Plano”

O psiquiatra Saturnino Silva — já reformado — dedicou-se, durante longos anos, ao problema do alcoolismo na Madeira. Ainda hoje, exerce profissão no seu consultório particular, onde passam muitos doentes que querem livrar-se daquele grave problema que afecta a nossa sociedade.
Enquanto representante do Centro de Saúde Mental, elaborou um Plano de Combate ao problema. Relatório que foi feito, está actualizado mas ainda não foi aplicado.
O médico diz não saber se é falta de coragem política ou não mas garante que se essas ideias que constam no plano fossem por diante, o problema do alcoolismo não teria as proporções que tem actualmente.
Considerando que o problema do alcoolismo não se resolve apenas com um combate feroz às tascas existentes na Madeira, o psiquiatra admite, contudo, que estas contribuem, em muito, para que o problema persista em aumentar. Há legislação que proíbe a abertura de estabelecimentos perto de escola, há legislação que proíbe a venda de álcool a menores. Mas os comerciantes vendem a toda a gente. O médico diz ainda que o problema do álcool é directamente proporcional ao número de tascas, ao número de acidentes de viação, entre outros.
Na opinião de Saturnino Silva, Portugal deve estar a ocupar, neste momento, um segundo ou terceiro lugar, ao nível da Europa, como país que mais álcool consome.


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